Introdução
Nas últimas semanas, o governo federal anunciou um reajuste significativo na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com reflexos diretos no turismo corporativo. O objetivo é aumentar a arrecadação em cerca de R$ 18,5 bilhões em 2025, e de R$ 35 bilhões em 2026, através da elevação das alíquotas para câmbio, crédito e previdência privada. Para empresas que atuam com viagens corporativas, essa mudança representa custos adicionais substanciais, comprometendo orçamentos, planejamento de viagens e a eficiência das operações.
Neste post, abordo em detalhes:
- As principais mudanças no IOF e seus impactos nas viagens corporativas;
- Como empresas e agências podem mitigar os efeitos;
- O cenário macroeconômico que envolve essas decisões;
- Estratégias práticas para adaptabilidade;
- E o papel fundamental das agências de viagens corporativas neste contexto.
1. O que mudou no IOF – entenda o cenário
1.1 Aumento na alíquota de câmbio e crédito
- Câmbio em espécie: até então, o IOF era de 1,1%. Com o reajuste, subiu para 3,5%, representando um aumento de mais de três vezes no custo das operações .
- IOF sobre operações de crédito: alta de 1,88% para 3,95% ao ano; para empresas do Simples Nacional, passou de 0,88% para 1,95%
Essa elevação reflete a tentativa do governo de reajustar as contas públicas, mas tem efeitos imediatos nas despesas financeiras de empresas aéreas, agências, hotéis e demais players do turismo corporativo.
1.2 Impacto previsto pelas entidades do setor
Douglas Camargo, diretor-executivo da Abracorp, alertou para o encarecimento operacional dos agentes do turismo e suas consequências em toda a cadeia produtiva
“IOF não deve ser utilizado como ferramenta de arrecadação. … necessário que o governo olhe para o setor com mais cuidado e proponha soluções de incentivo.”
Fabiano Camargo, da Braztoa, destaca que a alíquota única de 3,5% no câmbio internacional pressiona o custo final das viagens — estimando aumento de 2% a 3% nos preços ao consumidor
2. Quais são os efeitos no turismo corporativo
2.1 Aumento nos custos operacionais
- Compra de moeda estrangeira: os gestores de viagem que compram dólares para funcionários em deslocamento terão maior despesa.
- Cartão de crédito corporativo no exterior: o aumento de cerca de 3,55% na alíquota reduce a competitividade financeira.
- Linhas de crédito: leasing de aeronaves, manutenção de frota, compra de combustível e capital de giro ficam mais caros, pressionando margens
- Margin squeeze em hotéis e transporte: as empresas com custo de crédito elevado repassam para a cadeia.
2.2 Retração no consumo e impacto no planejamento
A elevação de preços tende a levar a:
- Redução dos volumes de viagens internacionais e diminuição de dias de permanência;
- Consolidação de viagens da modalidade “frugais” ou otimizadas, focadas em resultados pontuais;
- Revisão de políticas internas de viagem para implementar limites mais rigorosos.
2.3 Consequências estratégicas
- Companhias aéreas: já alertaram que o aumento pode significar R$ 600 milhões em custo operacional adicional .
- Operadoras e agências corporativas: custos cambiais mais altos e acesso a crédito mais restrito fragilizam as margens e a oferta de serviços diferenciados.
3. O contexto macroeconômico — por que o aumento foi implementado
- O governo busca elevar a arrecadação por meio de medidas fiscais, buscando equilíbrio no orçamento.
- A medida visa recalibrar o mercado financeiro, mas o setor de turismo foi mantido no ápice do aumento – com alíquota cambial de 3,5% fixa
- Essas decisões refletem prioridades fiscais, mas sem considerar adequadamente os efeitos colaterais no turismo corporativo, um dos setores mais sensíveis a variações cambiais.
4. Estratégias para mitigar os impactos
Consciente dos efeitos negativos, tanto o governo quanto empresas e agências podem adotar medidas práticas:
4.1 Diversificar métodos de pagamento
- Uso de Virtual Card Numbers (VCN) que possibilitam pagamento pré-determinado e mudança no câmbio.
- Planejamento antecipado de compras cambiais em datas com menor volatilidade.
4.2 Negociações com fornecedores
- Revisar contratos para repensar o modelo de pagamento – adaptar prazos ou incluir cláusulas que considerem ajustes cambiais.
- Repercutir parte dos custos nas rates de agências e operadoras, com transparência.
4.3 Políticas internas de viagem
- Maior utilização de travel policies rigorosas: priorizar viagens estratégicas e revisar frequência.
- Implementar programas de compliance para otimizar gastos com base em relatórios de performance.
4.4 Captação de linhas de crédito mais vantajosas
- Buscar financiamentos com menores taxas ou durações predefinidas.
- Avaliar alternativas de câmbio com empresas fintech que ofereçam spread competitivo no câmbio financeiro.
4.5 Incentivos fiscais e lobby setorial
- Atuar junto às entidades como Abracorp e Braztoa para sensibilizar o governo sobre a necessidade de medidas compensatórias.
- Estudar proposições de fomento ao turismo corporativo via mecanismos fiscais.
5. Como as agências de viagens corporativas podem ajudar
Agências modernas e bem estruturadas não são apenas prestadoras de serviços: surgem como parceiras estratégicas.
5.1 Consultoria financeira e de risco
- Análise de cenários cambiais e financeiros.
- Propostas de hedge cambial ou cotas diferenciadas, via parcerias.
- Simulações de impacto para auxiliar gestores.
5.2 Otimização tecnológica
- Plataformas com gestão automatizada de viagem, câmbio e compliance.
- Integração com sistemas ERP e de ERP corporativo, garantindo visibilidade de despesas.
5.3 Suporte jurídico e contratual
- Revisão de contratos com condições flexíveis para remarcações e cancelamentos.
- Defesa de cláusulas que protejam a empresa contra variações cambiais.
5.4 Mediação e renegociação
- Negociação direcional com companhias aéreas e hotéis, apresentando volume como vantagem competitiva.
5.5 Monitoramento contínuo
- Relatórios de performance trimestrais com índices de variação e custo-benefício.
- Dashboards possuem alertas automatizados para gastos fora do padrão.
6. Boas práticas para empresas consumidoras
Empresas com estrutura interna de travel management ou que utilizam terceirização podem adotar medidas-chave:
- Planejamento estratégico integrado: viagens devem ser tratadas em conjunto com planejamento financeiro e de capital.
- Treinamento de colaboradores: para uso eficiente de ferramentas e respeito às políticas internas.
- Relatórios de desempenho: monitoramento contínuo sobre KPIs, com direções para renegociação anual de contratos.
- Diversificação de provedores: manter opções entre bancos, fintechs e agências para garantir competitividade.
7. O futuro do turismo corporativo pós-IOF
Embora o setor já atinja recordes — como R$ 33 bilhões no 1º trimestre de 2025 — o atual aumento do IOF pode desacelerar esse crescimento. A médio prazo, teremos:
- Ajuste de rotas corporativas com foco em remuneração, e não apenas cobertura geográfica.
- Adoção crescente de soluções digitais que aumentem o controle financeiro.
- Possível transição de viagens presenciais para híbridas ou virtuais, quando a vantagem financeira justificar.
- Pressão para criação de políticas de crédito específicas para o turismo por parte do setor privado.
8. Conclusão
O aumento do IOF representa um desafio complexo para a cadeia de viagens corporativas. Embora a medida fiscal busque reforçar a arrecadação pública, seus efeitos espiralam por todo o ecossistema: empresas, agências, fornecedores e viajantes.
Para gestores de viagem, a chave está em olhar para além do custo imediato. Trata-se de um momento para:
- Refinar políticas internas;
- Aumentar a eficiência financeira;
- Fortalecer o diálogo com stakeholders;
- Investir em tecnologia;
- Calibrar a estratégia corporativa.
Agências de viagens devem aparecer como consultoras — oferecendo inteligência financeira, soluções cambiais, compliance e tecnologia — para transformar o desafio do IOF em oportunidade de gestão inteligente.
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